31/12/2014

AMIGA


Deixa-me ser a tua amiga, Amor;
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor
A mais triste de todas as mulheres.

Que só, de ti, me venha mágoa e dor
O que me importa a mim?! O que quiseres.
É sempre um sonho bom! Seja o que for
Bendito sejas tu por mo dizeres!

Beija-me as mãos, Amor, devagarinho...
Como se os dois nascêssemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...

Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei p’ra minha boca!...


FLORBELA ESPANCA
Livro de mágoas (1919)


Referência:
PEREIRA, José Carlos Seabra (org. e notas) - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca". Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 72.

ANGÚSTIA

A pensadora - por Pierre Auguste Renoir

Tortura do pensar! Triste lamento!
Quem nos dera calar a tua voz!
Quem nos dera cá dentro, muito a sós,
Estrangular a hidra num momento!

E não sequer pensar!... E o pensamento
Sempre a morder-nos bem, dentro de nós...
Qu’rer apagar no céu – ó sonho atroz! –
O brilho duma estrela, com o vento!...

E não se apaga, não... nada se apaga.
Vem sempre rastejando como a vaga...
Vem sempre perguntando: “O que te resta?...”

Ah! não ser mais que o vago, o infinito!
Ser pedaço de gelo, ser granito,
Ser rugido de tigre na floresta!

FLORBELA ESPANCA
Livro de mágoas (1919)


Referência:
PEREIRA, José Carlos Seabra (org. e notas) - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca". Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 71.

NOITE DE SAUDADE

Imagem, em Contemplarte

A Noite vem poisando devagar
Sobre a terra que inunda de amargura...
E nem sequer a bênção do luar
A quis tornar divinamente pura...

Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que é cheia de tortura...
E eu oiço a Noite imensa soluçar!
E eu oiço soluçar a Noite escura!

Por que és assim tão ‘scura, assim tão triste?!
É que, talvez, ó Noite, em ti existe
Uma Saudade igual à que eu contenho!

Saudade que eu não sei donde me vem...
Talvez de ti, ó Noite!... Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!!

FLORBELA ESPANCA

Livro de mágoas (1919)


Referência:
PEREIRA, José Carlos Seabra (org. e notas) - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca". Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 70.

A FLOR DO SONHO


A Flor do Sonho alvíssima, divina,
Miraculosamente abriu em mim,
Como se uma magnólia de cetim
Fosse florir num muro todo em ruína.

Pende em meu seio a haste branda e fina
E não posso entender como é que, enfim,
Essa tão rara flor abriu assim!...
Milagre... fantasia... ou, talvez, sina...

Ó Flor que em mim nasceste sem abrolhos,
Que tem que sejam tristes os meus olhos
Se eles são tristes pelo amor de ti?!...

Desde que em mim nasceste em noite calma,
Voou ao longe a asa da minh’alma
E nunca, nunca mais eu me entendi...


FLORBELA ESPANCA
Livro de mágoas (1919)


Referência:
PEREIRA, José Carlos Seabra (org. e notas) - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca". Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 69.

A MAIOR TORTURA

Monte alentejano com urze (2007) 
por Salvação Barreto (1927-)


A um grande poeta de Portugal! 
[Américo Durão]


Na vida, para mim, não há deleite.
Ando a chorar convulsa noite e dia...
E não tenho uma sombra fugidia
Onde poise a cabeça, onde me deite!

E nem flor de lilás tenho que enfeite
A minha atroz, imensa nostalgia!...
A minha pobre Mãe tão branca e fria
Deu-me a beber a Mágoa no seu leite!

Poeta, eu sou um cardo desprezado,
A urze que se pisa sob os pés.
Sou, como tu, um riso desgraçado!

Mas a minha tortura ‘inda é maior:
Não ser poeta assim como tu és
Para gritar num verso a minha Dor!...


FLORBELA ESPANCA

Livro de mágoas (1919)



Referência:
PEREIRA, José Carlos Seabra (org. e notas) - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca". Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 68.

PEQUENINA




À Maria Helena Falcão Risques


És pequenina e ris... A boca breve
É um pequeno idílio cor-de-rosa...
Haste de lírio frágil e mimosa!
Cofre de beijos feito sonho e neve!

Doce quimera que a nossa alma deve
Ao Céu que assim te faz tão graciosa!
Que nesta vida amarga e tormentosa
Te fez nascer como um perfume leve!

O ver o teu olhar faz bem à gente...
E cheira e sabe, a nossa boca, a flores
Quando o teu nome diz, suavemente...

Pequenina que a Mãe de Deus sonhou,
Que ela afaste de ti aquelas dores
Que fizeram de mim isto que sou!


FLORBELA ESPANCA
Livro de mágoas (1919)




Referência:


PEREIRA, José Carlos Seabra (org. e notas) - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca". Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 67.

NEURASTENIA

Imagem do filme "Florbela" (2012) de Vicente Alves do Ó

Sinto hoje a alma cheia de tristeza!
Um sino dobra em mim, Ave-Marias!
Lá fora, a chuva, brancas mãos esguias,
Faz na vidraça rendas de Veneza...

O vento desgrenhado, chora e reza
Por alma dos que estão nas agonias!
E flocos de neve, aves brancas, frias,
Batem as asas pela Natureza...

Chuva... tenho tristeza! Mas porquê?!
Vento... tenho saudades! Mas de quê?!
Ó neve que destino triste o nosso!

Ó chuva! Ó vento! Ó neve! Que tortura!
Gritem ao mundo inteiro esta amargura,
Digam isto que sinto que eu não posso!!...


FLORBELA ESPANCA

Livro de mágoas (1919)




Referência:


PEREIRA, José Carlos Seabra (org. e notas) - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca". Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 66.

AS MINHAS ILUSÕES

Imagem do filme "Florbela" (2012) de Vicente Alves do Ó


Hora sagrada dum entardecer
D’Outono, à beira-mar, cor de safira.
Soa no ar uma invisível lira...
O sol é um doente a enlanguescer...

A vaga estende os braços a suster,
Numa dor de revolta cheia de ira,
A doirada cabeça que delira
Num último suspiro, a estremecer!

O sol morreu... e veste luto o mar...
E eu vejo a urna d’oiro, a balouçar,
À flor das ondas, num lençol de espuma.

As minhas Ilusões, doce tesoiro,
Também as vi levar em urna d’oiro,
No Mar da Vida, assim... uma por uma...


FLORBELA ESPANCA

Livro de mágoas (1919)



Referência:

PEREIRA, José Carlos Seabra (org. e notas) - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca". Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 65.

30/12/2014

DIZERES ÍNTIMOS



É tão triste morrer na minha idade!
E vou ver os meus olhos, penitentes
Vestidinhos de roxo, como crentes
Do soturno convento da Saudade!

E logo vou olhar (com que ansiedade!...)
As minhas mãos esguias, languescentes,
De brancos dedos, uns bebés doentes
Que hão-de morrer em plena mocidade!

E ser-se novo é ter-se o Paraíso,
É ter-se a estrada larga, ao sol, florida,
Aonde tudo é luz e graça e riso!

E os meus vinte e três anos... (Sou tão nova!)
Dizem baixinho a rir: — “Que linda a vida!...”
Responde a minha Dor: — “Que linda a cova!



FLORBELA ESPANCA

Livro de mágoas (1919)



Referência:

PEREIRA, José Carlos Seabra (org. e notas) - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca". Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 64.

A MINHA DOR

Convento das Chagas de Vila Viçosa

A você

A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.

Os sinos têm dobres d’agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal...
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias...

A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!

Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve... ninguém vê... ninguém...


FLORBELA ESPANCA
Livro de mágoas (1919)



Referência:

PEREIRA, José Carlos Seabra (org. e notas) - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca". Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 63.

TORRE DE NÉVOA

Torre de Anto, em Coimbra

Subi ao alto, à minha Torre esguia,
Feita de fumo, névoas e luar,
E pus-me, comovida, a conversar
Com os poetas mortos, todo o dia.

Contei-lhes os meus sonhos, a alegria
Dos versos que são meus, do meu sonhar,
E todos os poetas, a chorar,
Responderam-me então: — “Que fantasia,

Criança doida e crente! Nós também
Tivemos ilusões, como ninguém,
E tudo nos fugiu, tudo morreu!...”

Calaram-se os poetas, tristemente...
E é desde então que eu choro amargamente
Na minha Torre esguia junto ao céu!...


FLORBELA ESPANCA

Livro de mágoas (1919)



Referência:

PEREIRA, José Carlos Seabra (org. e notas) - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca". Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 62.

LÁGRIMAS OCULTAS

Ofélia, noiva de Hamlet

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas.
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!


FLORBELA ESPANCA
Livro de mágoas (1919)



Referência:

PEREIRA, José Carlos Seabra (org. e notas) - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca". Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 61.

TORTURA


Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida Verdade, o Sentimento!
– E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...

Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
– E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento...

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!


FLORBELA ESPANCA

Livro de mágoas (1919)




Referência:

PEREIRA, José Carlos Seabra (org. e notas) - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca". Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 60.

28/12/2014

CRONOLOGIA da vida e a obra de Florbela Espanca por Agustina Bessa-Luís

  
Agustina BESSA-LUÍS
A vida e a obra de Florbela Espanca
Lisboa: Arcádia, 1979 / 2.ª edição: 1979.
Contém Antologia, Cronologia [pp. 261-2] e Imagens [fora de texto].

1866

  • 1 de fevereiro – Nasce na freguesia de Orada, termo de Estremoz, João Maria Espanca, pai de Florbela.

1887

  • 31 de março – João Maria Espanca casa com Mariana do Carmo Toscano, na Igreja de São Bartolomeu, de Vila Viçosa.

1894

  • 8 de dezembro – às 2 horas da noite, nasce Flor-Bela d’Alma da Conceição Espanca, registada como filha natural de Antónia da Conceição Lobo e de pai incógnito.

1895

  • 20 de junho – É batizada Flor-Bela, na Igreja de Nossa senhora da Conceição, de Vila Viçosa, sendo padrinhos Daniel da Silva Barroso e Mariana do Carmo Inglesa espanca.

1897

  • 10 de março – Nasce Apeles Espanca, irmão de Florbela, registado como filho natural de Antónia da Conceição Lobo e de pai incógnito.

1905

  • Florbela matricula-se no 1.º ano do liceu de Évora, que frequenta até 1912.

1908

  • Morre Antónia da Conceição Lobo.

1913

  • 28 de novembro – Florbela é emancipada.
  • 8 de dezembro – Florbela casa com Alberto de Jesus Silva Moutinho, de 20 anos, numa casa da Rua Gomes Jardim em Vila Viçosa.

1916

  • 2 de julho a 17 de setembro – colaboração literária de Florbela no Notícias de Évora.

1917

  • 24 de julho – Florbela conclui no liceu de Évora o 7.º ano de Letras, como aluna externa.
  • 9 de outubro – Florbela matricula-se na Faculdade de Direito de Lisboa, e inscreve-se no 1.º ano.

1918

  • 25 de setembro – Florbela inscreve-se no 2.º ano da Faculdade de Direito de Lisboa.

1919

  • 10 de outubro – Florbela inscreve-se no 3.º ano da Faculdade de Direito de Lisboa.
  • É publicado o Livro de Mágoas.

1921

  • 30 de abril – É decretado em Évora o divórcio de Florbela e Alberto Moutinho.
  • 29 de junho – Florbela casa na 2.ª Conservatória do Registo Civil do Porto, com António José Marques Guimarães, de 26 anos, alferes de artilharia da Guarda republicana.
  • 9 de novembro – É decretado em Vila Viçosa o divórcio de João Maria Espanca e Mariana do Carmo.

1922

  • 4 de julho – João Maria Espanca casa em Évora com Henriqueta das Dores Almeida, de 42 anos de idade.

1923

  • É publicado o Livro de Soror Saudade.

1924

  • 4 de abril – António José Marques Guimarães distribui ação de divórcio contra Florbela (6.ª Vara Cível de Lisboa).

1925

  • 23 de junho – É decretado o divórcio de Florbela e António Guimarães.
  • 15 de outubro – Florbela casa, na Repartição do Registo Civil de Matosinhos, com Mário Pereira Lage, médico, de 32 anos.

1927

  • 6 de junho – Morte de Apeles Espanca, na queda do hidroavião que tripulava.

1930

  • 7 de dezembro – Às 22 horas, morre Florbela, na sua residência na Rua 1.º de Dezembro, em Matosinhos.
  • 8 de dezembro – Florbela vai a sepultar no cemitério de Sendim (Matosinhos).

1931

  • É publicado o livro de sonetos de Florbela Charneca em Flor.
  • Guido Battelli publica Cartas de Florbela Espanca e Juvenília (poesias inéditas).

1932

  • É publicado o livro de contos de Florbela As Máscaras do Destino, acabado de imprimir em 31 de dezembro de 1931.

1949

  • 13 de junho – João Maria Espanca perfilha Florbela, em Vila Viçosa.
  • 18 de junho – É inaugurado, no Jardim Público de Évora, um monumento a Florbela, da autoria do escultor Diogo de Macedo.
  • Azinhal Abelho e José Emídio Amaro publicam Cartas de Florbela Espanca, sem data.

1954

  • 4 de julho – Morre João Maria Espanca, em Vila Viçosa.

1964

  • 17 de maio – Os restos mortais de Florbela são trasladados para o cemitério de Vila Viçosa.

1981

  • É publicado o Diário do Último Ano, de Florbela.

Agustina BESSA-LUÍS
Florbela Espanca: biografia
Lisboa: Guimarães Editores, (1976?, 1982?)
Contém Antologia [acrescida de uma “Carta a Augusto d’Esaguy”, “Vila Viçosa, 15-1-920”, pp. 183-185], Cronologia [pp. 219-221]; sem ilustrações, / 2.a edição: 1984 / 3.ª edição: 1997 / 4.ª edição: 2001.


RUA FLORBELA ESPANCA, em Lisboa (Alvalade)

Edital da Rua Florbela Espanca
Edital de 19.07.1948

Freguesia: Alvalade
Início do Arruamento: Rua Fernando Pessoa
Fim do Arruamento: Sem saída
Data do Edital: 19.07.1948
Designação anterior: Rua n.º 19 do Sítio de Alvalade


Referência:
«Rua Florbela Espanca (Alvalade)», in “Toponímia”, no sítio da Câmara Municipal de Lisboa.

RUA TENENTE ESPANCA, em Lisboa (Avenidas Novas)



Esta rua de Lisboa homenageia o irmão da poetisa Florbela Espanca – Apeles Espanca (Vila Viçosa, 10.03.1894 – Lisboa, 6.06.1927), que foi consagrado com esta placa toponímica no próprio ano da sua trágica morte: o avião que pilotava despenhou-se no rio Tejo, afundando-se. Recentemente, o realizador de cinema Vicente Alves do Ó reconfigurou esse episódio no belo filme “Florbela” (2012).

Freguesia: Avenidas Novas
Início do Arruamento: Avenida de Berna
Fim do Arruamento: Rua Actor Alves da Costa
Data de Deliberação Camarária: 30.06.1927
Data do Edital: 07.07.1927
Designação anterior: Rua C, do Bairro de Londres.


Edital da Rua Tenente Espanca
Edital de 07.07.1927

 QUEM É APELES ESPANCA?

          «APELES Demóstenes da Rocha ESPANCA, nasceu em Vila Viçosa e faleceu em Lisboa. Era irmão da Poetisa Florbela Espanca. Faleceu num desastre de aviação quando, ao ultimar as provas para tirar o brevet de piloto aviador, dirigia um aparelho que se despenhou no Rio Tejo, entre Porto Brandão e a Trafaria, afundando-se.
          Frequentou Liceu de Évora, tirou em Coimbra os preparatórios para a Escola Naval, foi nomeado Aspirante de Marinha em 09-08-1917, promovido a Guarda-Marinha em 04-02-1921, a Segundo-Tenente em 19-08-1922 e a Primeiro-Tenente em 1926.
          Artista, como a irmã, que lhe consagrou todo o livro de prosa “Máscaras do Destino”, aberto com o conto “O Aviador”, e lhe dedicou “Charneca em Flor” o soneto “In Memoriam”, Apeles Espanca era também um Pintor modernista interessante, senhor de belas qualidades, afirmadas em óleos e aguarelas que a Ilustração (direção de João de Sousa Fonseca) publicou em parte e foram admiradas em exposições públicas, como a realizada em Évora, em 1941, por ocasião do 1º centenário do Liceu. Existe uma lápide no átrio do Liceu André de Gouveia.
          O seu nome faz parte da Toponímia de: Lisboa (Freguesia de Nossa Senhora de Fátima, Edital de 07.07.1927) e Reguengos de Monsaraz (aqui como Rua Demóstenes Espanca).»
Fonte: Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. 10, pp. 186-187 (reprod. no blogue Ruas com história).

Algumas referências


27/12/2014

FLORBELA ESPANCA NO ALGARVE - por J. C. Vilhena Mesquita

José Carlos Vilhena Mesquita, n. 1955-
Professor universitário e historiador.







«A fugaz passagem de Florbela Espanca pelo Algarve tem sido pouco estudada pelos seus biógrafos que, naturalmente, se têm mostrado muito mais atentos aos factos que marcaram diretamente a sua amarga existência. Porém, permitam-me que discorde da macrobiografia e que modestamente me embrenhe na obscuridade dos episódios pouco conhecidos, "a priori" irrelevantes, mas que teremos de admitir, constituem os microfactos, na maioria dos casos, indispensáveis e urgentes para o desvelamento dos chamados "acontecimentos notáveis". Pois, na vida de Florbela d'Alma da Conceição Espanca, verificam-se muitos "pontos negros", que apenas se afloram sem que, contudo, se penetre no cerne das suas origens, na essência da sua constituição. Ora, a permanência daquela poetisa em terras do Algarve não tem constituído, ainda, um objeto de investigação para os ensaístas da nossa literatura ou para os historiadores da nossa cultura, talvez porque a sua estada foi efémera, transitória e indelével.

A razão da transferência daquela poetisa alentejana para a pacata Aldeia de Quelfes, no concelho de Olhão, prende-se com questões de saúde e data da Primavera-Verão de 1918. Nessa altura, Florbela já campeava nos jornais, mormente no Notícias de Évora, creditando-se como uma jovem poetisa de rara sensibilidade, espelhando desde logo uma inspiração transcendente e mística, de uma beleza algo amarga.
Vinha atraída pelo clima ameno, de ares puros e grande calmia, que então se vivia na orla marítima desta província. A sua doença aparentava sintomas de tuberculose e a prudência aconselhava-a a fugir dos ares poluídos e da vida atribulada, que experimentara como estudante do 1.º ano de Direito da Universidade de Lisboa. [...]


Fonte:
MESQUITA, José Carlos Vilhena (1983) «Florbela Espanca no Algarve», artigo, Diário de Notícias, Lisboa, 5.08.1983; reprod. sob o título «Florbela Espanca na vila de Olhão», em separata editada pel’ A Voz de Olhão, “com base nos artigos publicados desde o n.° 536 de 15.04.1996 até ao n.° 541 de 1.07.1996” – [Disponível online aqui]; reprod. online, com revisão, em out. 2010: «Florbela Espanca no Algarve (parte I)» e «Florbela Espanca no Algarve (parte II)», no blogue do autor Algarve - História e Cultura, 23.10.2010 e 26.10.2010.

09/12/2014

Manifesto Artístico - 120 Anos de Florbela Espanca

(excerto do manifesto)
Ler mais aqui.



«1. Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa, em 1894. Passaram 120 anos. Haveria muitas formas de começar este texto, mas os factos imperam sobre o mais prosaico dos lirismos. Portugal celebra 120 anos do seu nascimento; a Literatura celebra 120 anos da sua existência dissonante; as Mulheres celebram 120 anos da sua liberdade gritante; os calipolenses, em Vila Viçosa, podem entristecer-se com a falta que ela ainda nos faz. Pois, "a ironia é a expressão mais perfeita do pensamento", Florbela.


2. Há quem diga que viveu à frente do seu tempo. No mínimo, um século! Veja-se que, passados 120 anos, há em Vila Viçosa, uma ‘ombreia’, um busto e um jazigo, com seu nome talhado no mármore, nesse tão duro fruto que a terra nos dá. Mas o atraso nas artes, a falta de investimento sério na cultura, a inexistência de um planeamento estratégico e sustentável no âmbito da Cultura local, denunciam uma total e transversal incompreensão sobre o significado, o legado e a importância desta Figura. É que, “sentir é muito, [mas] compreender é melhor”, como ela mesmo disse.» [...]


por

João M. Pereirinha
Fotógrafo, escritor e poeta
joaom.pereirinha@gmail.com



Fonte:«Manifesto Artístico | 120 Anos de Florbela Espanca», in Tribuna [online], 08.12.2014.

REALIDADE, por Florbela Espanca

Homenagem à Poetisa na celebração do seu 120.º aniversário
Vila Viçosa, 8.12.2014
Fotografia por Radio Borba


Em ti o meu olhar fez-se alvorada
E a minha voz fez-se gorjeio de ninho…
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura pálida do linho.

Embriagou-me o teu beijo como um vinho
Fulvo de Espanha, em taça cinzelada…
E a minha cabeleira desatada
Pôs a teus pés a sombra dum caminho…

Minhas pálpebras são cor de verbena,
Eu tenho os olhos garços, sou morena,
E para te encontrar foi que eu nasci...

Tens sido vida fora o meu desejo
E agora, que te falo, que te vejo,
Não sei se te encontrei… se te perdi...


Florbela Espanca
in Charneca em flor, 1931


Referêencia:
In: ESPANCA, Florbela - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca" - org. e notas de José Carlos Seabra Pereira. Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 145.

06/12/2014

CELEBRAMOS OS 120 ANOS DO NASCIMENTO DE FLORBELA ESPANCA


«Florbela teria gostado, com certeza, de ter visto esta obra [Fotobiografia].»
Rui Guedes

     
 Encontros Florbelianos
      
       

Mostra evocativa dos 120 anos do nascimento de Florbela na Biblioteca M. de V. N. de Gaia


Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia

De outubro a 31 dezembro
De segunda a sexta-feira: das 10h às 19h.
Sábados: das 10h às 12h30.

Fundação Marquês de Pombal comemora os 120 anos do nascimento de Florbela Espanca


FLORBELA ESPANCA NO PALÁCIO DOS ACIPRESTES
 Auditório do Palácio dos Aciprestes / Fundação Marquês de Pombal
8 dez., às 15h00
Entrada livre
  
Este evento celebra o 120.º aniversário do nascimento da poetisa Florbela Espanca (8.12.1894) e conta com a presença do presidente do Grupo Florbela Espanca, José Carlos Férnandez e Severina Gonçalves, investigadora do mesmo grupo.

O encontro, organizado pela Thinkers, com o apoio da Fundação Marquês de Pombal e da Nova Acrópole, contempla uma palestra sobre a vida e obra de Florbela Espanca, uma declamação de seis sonetos recentemente editados e ainda uma tertúlia e discussão sobre a poetisa.


ESPETÁCULO POÉTICO-MUSICAL DEDICADO A FLORBELA ESPANCA


 MURMÚRIOS EM FLOR
Espetáculo poético-musical
por D’Improviso


Teatro Gil Vicente, Barcelos
8 dez. – segunda-feira, às 21:30
Entrada gratuita


Murmúrios em Flor é um espetáculo poético-musical dedicado à poetisa Florbela Espanca, concebido e encenado pela Associação D’ Improviso – Artes do Espetáculo, de Barcelos.

Este espetáculo tem como finalidade homenagear a poetisa, por alturas da celebração dos cento e vinte anos do seu nascimento, ocorrido em 8 de dezembro de 1894.


Tendo como fio condutor pensamentos da homenageada, o espetáculo assenta principalmente na interpretação de poemas e algumas canções, com acompanhamento musical ao vivo. (Fonte: Agenda Barcelos e grupo no Facebook: D’Improviso)

OS POEMAS DE FLORBELA ESPANCA PARA SALVAR NOSSA A VIDA




A Festa da Poesia, a decorrer na Biblioteca Municipal Florbela Espanca  em Matosinhos, abre este ano sob o lema “Poemas para Salvar a Vida” e constitui igualmente uma celebração dos 120 anos do nascimento de Florbela Espanca.

Esta iniciativa, a decorrer nos dias 7, 8 e 9 de dezembro, é um projeto da Câmara Municipal de Matosinhos, com a produção executiva da Booktailors, que pretende homenagear e celebrar os poetas e a poesia em língua portuguesa. A edição deste ano compreenderá igualmente leituras públicas e conversas, acrescidas do espetáculo «Poemas no Quarto Escuro» e da apresentação da antologia Cem Poemas para Salvar a Nossa Vida, organizada por Francisco José Viegas.

PROGRAMA




Saiba mais em porto24 e em Booktailors.


Biblioteca Municipal Florbela Espanca. Foto: DR, in porto24