30/01/2014

Coleção 1.as Edições Fac-similadas II – “Livro de Soror Saudade” de Florbela Espanca



O Livro de Soror Saudade de Florbela Espanca foi editado na coleção “1.as Edições Fac-similadas", série II, do jornal Público que comemora os 500 anos da Biblioteca da Universidade de Coimbra e a classificação da Universidade a Património Mundial da Humanidade pela UNESCO.

Esta segunda coletânea de sonetos da poetisa é reproduzida numa edição fac-similada, i.e., tal e qual como foi originalmente publicada: o leitor pode folhear com as suas mãos um volume com a mesma dimensão, capa, fontes de letra e paginação, como se o verdadeiro livro de poemas de Florbela se tratasse.

Nesta coleção que reúne as primeiras edições das obras mais emblemáticas da cultura portuguesa, o livro de Florbela Espanca é apresentado por um dos mais reconhecidos estudiosos da sua obra, José Carlos Seabra Pereira.

Apareceu à venda nos locais habituais de distribuição de publicações periódicas, juntamente com o jornal Público, esta terça-feira, 28.01.2014.



“O Livro de Sóror Saudade é um livro de poesia de Florbela Espanca, onde a autora, ao longo de 36 sonetos, expõe o sentimento vivo do amor e da paixão, da entrega e do despertar para a vida. A obra foi publicada pela primeira vez em 1923 e acusa a presença do romantismo de fim de século, acompanhado por um crescendo na abordagem erótica, destacando-se nele os sonetos «Maria das Quimeras» (de tom biográfico), «Hora que passa» e o poema que lhe empresta o título, «Sóror Saudade».” – Descrição do livro na Loja do Público.



Para saber mais:

  • «Florbela Espanca no primeiro volume da série II das 1.as Edições Fac-similadas», Público, Lisboa, 24.01.2014, p. 50.
  • PEREIRA, José Carlos Seabra – «Do desejo de ser ao ser de desejo» [análise do livro], Público, Lisboa, 26.01.2014, p. 55.
  • Loja Público: Livros: Colecção 1as Edições Fac-Similadas.

Texto divulgado neste blogue no dia 2-2-2014.

26/01/2014

A Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão promove encontro sobre Florbela Espanca





Vicente Alves Do Ó, o realizador do filme "Florbela" [2012] e da série televisiva de três episódios sobre a vida da poetisa alentejana, contou: «Dia 7 volto a Famalicão com o Albano Jerónimo [o ator interpretou a figura de Mário Laje, marido da escritora] para falar sobre o "Florbela" - Facebook, 26.01.2014.

21/01/2014

Luisa Notarangelo celebra Florbela Espanca em “Terra de Portugal”

Luisa Notarangelo
Imagem do perfil, no Facebook


Luisa Notarangelo, a residir em Itália, é vocalista de LUSITANA SAUDADE ENSEMBLE e canta um reportório musical de “world music” que inclui letras com textos de poetas portugueses, desde os mais consagrados e amados – como Fernando Pessoa e Florbela Espanca, até a populares (de tom alentejano) e de intervenção (Zeca Afonso).






          No CD agora lançado TERRA DE PORTUGAL [2014] – ideia, voz e produção executiva de Luisa Notarangelo – Florbela Espanca é verdadeiramente homenageada: são três as letras adaptadas de poemas da autora de Charneca em flor [1931]:
          «Fado Menor» [«Poetas»];
          «Fado Florbela» [soneto «Anoitecer»] e
           «Fado para Amália» [«Meu fado, meu doce amigo»].
Transcrevemos, à frente, os textos florbelianos. Um desses poemas interpretados por Luisa Notarangelo está disponível no Youtbe – Oiça este fado, e aproveite para expressar um "gosto" [like]:



FADO FLORBELA [clique aqui]
Letra: Florbela Espanca/Luisa Notarangelo
Música e arranjos: José Barros e José Elmiro Nunes
Vídeo no Youtube – fotografia de Patrizia Secundo.



ANOITECER*

A luz desmaia num fulgor d'aurora,
Diz-nos adeus religiosamente...
E eu que não creio em nada, sou mais crente
Do que em menina, um dia, o fui... outrora...

Não sei o que em mim ri, o que em mim chora,
Tenho bênçãos d'amor p’ra toda a gente!
E a minha alma sombria e penitente
Soluça no infinito desta hora…

Horas tristes que são o meu rosário...
Ó minha cruz de tão pesado lenho!
Meu áspero e intérmino Calvário!

E a esta hora tudo em mim revive;
Saudades de saudades que não tenho... 

Sonhos que são os sonhos dos que eu tive...
Florbela



* Soneto integrado no volume Livro de Soror Saudade [1923). -in: ESPANC, Florbela - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca" - org. e notas de José Carlos Seabra Pereira. Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 112.



«Fado Menor» de Luisa Notarangelo


POETAS*

Ai as almas dos poetas

Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.

Andam perdidas na vida,

Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!

Só quem embala no peito

Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas
E eu que arrasto amarguras

Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma para sentir
A dos poetas também!
                                  Florbela

* Poema publicado no Notícias de Évora, 23.07.1916. - in: ESPANCA, Florbela – Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca" - org. e notas de José Carlos Seabra Pereira. Lisboa: Editorial Presença, 2009, 27.

«Fado para Amália» de Luisa Notarangelo


MEU FADO, MEU DOCE AMIGO

Meu fado, meu doce amigo
Meu grande consolador
Eu quero ouvir-te rezar,
Orações à minha dor!

Só no silêncio da noite
Vibrando perturbador,
Quantas almas não consolas
Nessa toada d'amor!

Cantando p'r uma voz pura
Eu quero ouvir-te também
P'r uma voz que me recorde
A doce voz do meu bem!

Pela calada da noite,
Quando o luar é dolente,
Eu quero ouvir essa voz
Docemente... docemente...

                                   Florbela



* In: ESPANCA, Florbela – Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca" - org. e notas de José Carlos Seabra Pereira. Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 58.



Para saber mais:


16/01/2014

«PRINCE CHARMANT», soneto de Florbela Espanca

Ilustr. de Infante do Carmo para um conto d'O livro das mil e uma noites
6 vols., Lisboa: Estúdios Cor, 1958-1962.



A Raul Proença

No lânguido esmaecer das amorosas
Tardes que morrem voluptuosamente
Procurei-O no meio de toda a gente.
Procurei-O em horas silenciosas!

Ó noites da minh'alma tenebrosas!
Bocas sangrando beijos, flor que sente...
Olhos postos num sonho, humildemente...
Mãos cheias de violetas e de rosas...

E nunca O encontrei!... Prince Charmant
Como audaz cavaleiro em velhas lendas
Virá, talvez, nas névoas da manhã!

Em toda a nossa vida anda a quimera
Tecendo em frágeis dedos frágeis rendas...
— Nunca se encontra Aquele que se espera!...

Florbela Espanca



Referêencia:
Título original, nos manuscritos: «Nunca», escrito em Vila Viçosa, e integrado no volume Livro de Soror Saudade (1923).


In: ESPANC, Florbela - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca" - org. e notas de José Carlos Seabra Pereira. Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 111.

10/01/2014

«És tu! És tu! Sempre vieste, enfim!», soneto de Florbela



És tu! És tu! Sempre vieste, enfim!
Oiço de novo o riso dos teus passos!
És tu que eu vejo a estender-me os braços
Que Deus criou pra me abraçar a mim!

Tudo é divino e santo visto assim…
Foram-se os desalentos, os cansaços...
O mundo não é mundo: é um jardim!
Um céu aberto: longes, os espaços!

Prende-me toda, Amor, prende-me bem!
Que vês tu em redor? Não há ninguém!
A terra? — Um astro morto que flutua...

Tudo o que é chama a arder, tudo o que sente,
Tudo o que é vida e vibra eternamente
É tu seres meu, Amor, e eu ser tua!

Florbela Espanca




Referência:
Soneto "IV" da parte "He hum não querer mais que bem querer" de Charneca em flor (1931).

In: ESPANC, Florbela - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca" - org. e notas de José Carlos Seabra Pereira. Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 192.

08/01/2014

A terra de Florbela



POBRE DE CRISTO


A. J. Emídio Amaro


Ó minha terra na planície rasa,
Branca de sol e cal e de luar,
Minha terra que nunca viu o mar,
Onde tenho o meu pão e a minha casa.

Minha terra de tardes sem uma asa,
Sem um bater de folha... a dormitar...
Meu anel de rubis a flamejar,
Minha terra mourisca a arder em brasa!

Minha terra onde meu irmão nasceu,
Aonde a mãe que eu tive e que morreu,
Foi moça e loira, amou e foi amada!

Truz... truz... truz... — Eu não tenho onde me acoite,
Sou um pobre de longe, é quase noite,
Terra, quero dormir, dá-me pousada!...

Florbela Espanca




Soneto inicialmente intitulado «Minha terra» e publicado no periódico D. Nuno, nº 125, 19.05.1929, Vila Viçosa, p. 2. - Integrado no volume Charneca em flor (1931).