04/12/2016

FLORBELA NO JARDIM DE ÉVORA, poema-homenagem do poeta Saul Dias

"A Menina e o Poeta", por Julio
180x133 cm

  

FLORBELA NO JARDIM DE ÉVORA


Florbela de pedra! É lá possível?! Pedra
a chama que se alteia, sobranceira, incorrupta?!
É lá possível?! Mudada em rocha bruta
inerte, sem calor, a Antígona, a Fedra?!

Para ela nada vale o mármore cuja alvura
o tempo mau corrói e muda em sujas gredas.
— Peguem fogo à charneca! Ateiem labaredas!
Vereis então surgir do seu perfil a altura!

No seu peito também cravaram sete espadas.
E rasgaram-lhe os pés as duras caminhadas
por caminhos hostis onde a erva não medra.

Agora no jardim descansa a Peregrina.
Florbela de pedra! A Menina Traquina
que falhou na lição e foi chamada à pedra!...


SAUL DIAS








Saul Dias (Vila do Conde, 1902-1983), 
pseudónimo literário (como poeta) de Júlio Maria dos Reis Pereira.
Assinou como Julio [sem acento] os seus desenhos, ilustrações e pinturas.
É irmão do poeta José Régio.




Fonte do poema: Saul Dias – Obra poética: 1932-1960. Lisboa: Portugália, 1960. / 2.ª ed. aumentada; pref. de David Mourão-Ferreira: Obra poética. Porto: Brasília, 1980. / 3.ª ed., rev. e aumentada; 12 desenhos inéditos de Julio; ed. Luís Adriano Carlos; colab. Valter Hugo Mãe. . Porto : Campo das Letras, 2001. – Poema reproduzido da  p. 314, provavelmente da 2.ª ed. [tenho fotocópia, sem referência bibliográfica].