As três idades da mulher (pormenor), por Gustav Klimt
Se os que me viram já cheia de
graça
Olharem bem de frente para mim,
Talvez, cheios de dor, digam
assim:
— “Já ela é velha! Como o tempo
passa!...”
Não sei rir e cantar por mais
que faça!
Ó minhas mãos talhadas em
marfim,
Deixem esse fio d’oiro que
esvoaça!
Deixem correr a vida até ao
fim!
Tenho vinte e três anos! Sou
velhinha!
Tenho cabelos brancos e sou
crente...
Já murmuro orações... falo
sozinha...
E o bando cor-de-rosa dos
carinhos
Que tu me fazes, olho-os
indulgente,
Como
se fosse um bando de netinhos...FLORBELA ESPANCA
Livro de mágoas (1919)
Referência:
PEREIRA, José Carlos Seabra (org. e notas) - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca". Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 85.