Tudo é vaidade neste mundo vão...
Tudo
é tristeza; tudo é pó, é nada!
E
mal desponta em nós a madrugada,
Vem
logo a noite encher o coração!
Até
o amor nos mente, essa canção
Que
o nosso peito ri à gargalhada,
Flor
que é nascida e logo desfolhada,
Pétalas
que se pisam pelo chão!...
Beijos
de amor! P’ra quê?!... Tristes vaidades
Sonhos
que logo são realidades,
Que
nos deixam a alma como morta!
Só
acredita neles quem é louca!
Beijos
de amor que vão de boca em boca,
Como
pobres que vão de porta em porta!...
Livro de mágoas (1919)
Referência:
PEREIRA, José Carlos Seabra (org. e notas) - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca". Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 79.