O vento passa a rir, torna a passar,
FLORBELA ESPANCA
Em
gargalhadas ásp’ras de demente;
E
esta minh’alma trágica e doente
Não
sabe se há-de rir, se há-de chorar!
Vento
de voz tristonha, voz plangente,
Vento
que ris de mim, sempre a troçar,
Vento
que ris do mundo e do amar,
A
tua voz tortura toda a gente!...
Vale-te
mais chorar, meu pobre amigo!
Desabafa
essa dor a sós comigo,
E
não rias assim!... Ó vento, chora!
Que
eu bem conheço, amigo, esse fadário
Do
nosso peito ser como um calvário,
e a
gente andar a rir p’la vida fora!!...FLORBELA ESPANCA
Livro de mágoas (1919)
Referência:
PEREIRA, José Carlos Seabra (org. e notas) - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca". Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 80.