Florbela Espanca, por Rui Guedes
Disseram-me
hoje, assim, ao ver-me triste:
—
“Parece Sexta-Feira de Paixão.
Sempre
a cismar, cismar, d’olhos no chão,
Sempre
a pensar na dor que não existe...
O
que é que tem?! Tão nova e sempre triste!
Faça
por estar contente! Pois então?!...”
Quando
se sofre, o que se diz é vão...
Meu
coração, tudo, calado, ouviste...
Os
meus males ninguém mos adivinha...
A
minha Dor não fala, anda sozinha...
Dissesse
ela o que sente! Ai quem me dera!...
Os
males d’Anto toda a gente os sabe!
Os
meus... ninguém... A minha Dor não cabe
Nos
cem milhões de versos que eu fizera!...FLORBELA ESPANCA
Livro de mágoas (1919)
Referência:
PEREIRA, José Carlos Seabra (org. e notas) - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca". Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 87.