RISO AMARGO [1]
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O sorriso de Florbela Lisboa, Campo Grande, 17.03.1918 |
Num desafio temerário e
forte,
Eu quero rir da vida,
altivamente,
Da vida que é combate,
luta ingente,
Nesta comédia dum viver
sem norte.
Quero rir da desgraça e
da má-sorte
Que nos fere e persegue
tenazmente.
Rir do que é baixo e
vil, amargamente,
Do que é soluço e dor…
E até da morte!
De tudo rir! Que mais
posso fazer?...
Se a podridão de charco
jamais volta
À limpidez das fontes a
correr…
Quero rir!... E o meu
riso é um esgar,
Um grito de impotência
e de revolta!
Rir! Quero rir!!
…
E apenas sei chorar!
Florbela Espanca
[1]
Um de seis sonetos inéditos – e até hoje
desconhecidos – de Florbela, divulgado na conferência-recital “Os Poemas
Inéditos de Florbela Espanca”, org. Associação Nova Acrópole, Lisboa, 06.12.2013.
– conferência proferida por José Carlos Fernández; poemas declamados pelo Grupo
de Poesia Florbela Espanca da Nova Acrópole.
Reprod. in GONÇALVES, Severina (2013), Poemas Inéditos de Florbela Espanca, Lisboa:
Edições Nova Acrópole. [ainda não vi édito este livro]