![]() |
Imagem, em Contemplarte |
A
Noite vem poisando devagar
Sobre
a terra que inunda de amargura...
E
nem sequer a bênção do luar
A
quis tornar divinamente pura...
Ninguém
vem atrás dela a acompanhar
A
sua dor que é cheia de tortura...
E
eu oiço a Noite imensa soluçar!
E
eu oiço soluçar a Noite escura!
Por
que és assim tão ‘scura, assim tão triste?!
É
que, talvez, ó Noite, em ti existe
Uma
Saudade igual à que eu contenho!
Saudade
que eu não sei donde me vem...
Talvez
de ti, ó Noite!... Ou de ninguém!...
Que eu
nunca sei quem sou, nem o que tenho!!FLORBELA ESPANCA
Livro de mágoas (1919)
Referência:
PEREIRA, José Carlos Seabra (org. e notas) - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca". Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 70.