A pensadora - por Pierre Auguste Renoir
Tortura do pensar! Triste lamento!
Quem
nos dera calar a tua voz!
Quem
nos dera cá dentro, muito a sós,
Estrangular
a hidra num momento!
E
não sequer pensar!... E o pensamento
Sempre
a morder-nos bem, dentro de nós...
Qu’rer
apagar no céu – ó sonho atroz! –
O
brilho duma estrela, com o vento!...
E
não se apaga, não... nada se apaga.
Vem
sempre rastejando como a vaga...
Vem
sempre perguntando: “O que te resta?...”
Ah!
não ser mais que o vago, o infinito!
Ser
pedaço de gelo, ser granito,
Ser
rugido de tigre na floresta!Livro de mágoas (1919)
Referência:
PEREIRA, José Carlos Seabra (org. e notas) - Obra Poética, volume I, de "Obras de Florbela Espanca". Lisboa: Editorial Presença, 2009, p. 71.