POBRE DE CRISTO
A. J. Emídio Amaro
Ó minha terra na planície rasa,
Branca de sol e cal e de luar,
Minha terra que nunca viu o mar,
Onde tenho o meu pão e a minha casa.
Minha terra de tardes sem uma asa,
Sem um bater de folha... a dormitar...
Meu anel de rubis a flamejar,
Minha terra mourisca a arder em brasa!
Minha terra onde meu irmão nasceu,
Aonde a mãe que eu tive e que morreu,
Foi moça e loira, amou e foi amada!
Truz... truz... truz... — Eu não tenho onde me acoite,
Sou um pobre de longe, é quase noite,
Terra, quero dormir, dá-me pousada!...
Florbela Espanca
Soneto inicialmente intitulado «Minha terra» e publicado no periódico D. Nuno, nº 125, 19.05.1929, Vila Viçosa, p. 2. - Integrado no volume Charneca em flor (1931).